quarta-feira, 19 de março de 2014

Evasão no Mestrado chega a 70%, por que será?

Outro dia, não faz muito mais do que um mês, alguns colegas me chamaram a atenção para a seguinte reportagem: "Evasão no Mestrado chega a 70%", veiculada pela Folha de SP.

Resumidamente, a reportagem mostra o que vem acontecendo nas grandes Universidades brasileiras: alunos de Mestrado e Doutorado estão abandonando os cursos, principalmente nas áreas de Ciências Exatas e Engenharias, por causa dos baixos valores das bolsas (R\$ 1.500 no mestrado e R\$ 2.200 no doutorado) e do surgimento de vagas com salários mais atrativos no mercado de trabalho.

O curso de Mestrado que deu título à reportagem foi o de Matemática Aplicada e Computacional, na Unicamp, registrando 70% de desistência, sendo o caso mais grave nesse sentido.

Tentei encontrar a série histórica com os valores das bolsas de Mestrado e Doutorado no site do CNPq, mas não obtive êxito nessa tarefa. Eu queria analisar os valores das bolsas em relação ao salário mínimo ou algum indicador, como a inflação por exemplo, para ter uma ideia do quanto o valor relativo das bolsas havia caído.

Eis que o site posgraduando "realizou meu sonho" e publicou em sua página do Facebook a seguinte imagem:

Fonte: posgraduando

A imagem quase dispensa comentários...

Em 1994, uma bolsa de mestrado representava 10 salários mínimos, enquanto que uma de doutorado representava 15 salários mínimos. Se essa relação tivesse se mantido constante, mestrandos receberiam algo em torno de R\$ 7.250 e doutorandos receberiam mais de R\$ 10.000, lembrando que bolsas não são tributáveis no IR, ou seja, esses valores seriam líquidos. Valores difíceis de serem superados pelo mercado, que teria que "rebolar" para "roubar" profissionais da Ciência.

Com as bolsas de hoje e o custo de vida elevadíssimo, principalmente, nas grandes cidades é quase impraticável "se manter" sem passar alguns apertos. É óbvio, é esperado, é claro que se o mercado oferecer um salário quase equivalente ao que o mestrando/doutorando alcançará quando concluir o curso e SE passar num concurso, ele tenderá a abandonar a carreira acadêmica e buscar melhores condições de vida.

Ser cientista não implica em voto de pobreza, apesar do retorno financeiro não ser a única coisa que os cientistas sérios buscam.

Olhando para este gráfico, a única, e triste, conclusão que posso tirar é: não seria possível acontecer outra coisa depois de tanto descaso de TRÊS governantes, do ponto de vista financeiro, com os nossos mestrandos de doutorandos.

Até a próxima.

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